sexta-feira, 30 de março de 2007

Apontamentos sobre a minha nova instalação vídeo


WHO’S AFRAID OF RED, YELLOW AND BLUE
THE CINEMATIC EXPERIENCE 2007
DVD loop (tripla projecção)_cor_som­_10 min.
(apresentação em três LCDs integrados numa pintura sobre as paredes da galeria)

"Ce n’est pas une image juste, c’est juste une image."
Frase retirada do filme Vent d’Est (1969) realizado pelo Grupo Dziga Vertov (Jean-Luc Godard e Jean-Pierre Gorin)

WHO’S AFRAID OF RED, YELLOW AND BLUE é o título de uma série de pinturas do pintor Barnett Newman ligado ao movimento minimalista americano. A mais famosa dessas telas foi adquirida pelo Stedelijk Museum em Amesterdão e mais tarde vandalizada por um desconhecido pintor holandês em Março de 1986.
O seu restauro foi polémico pois os críticos consideraram aquando a sua reaparição pública que a obra e as suas cores tinham perdido a sua verdadeira “essência”. A “sacralizada” pintura de Newman acabou, ao pretender-se preservar, vítima de um “détournement” involuntário.
Neste trabalho em vídeo são também reformuladas imagens retiradas do contexto cinematográfico, sendo todas as sequências de loop apropriadas de longas-metragens e colocadas num mesmo nível de leitura enquanto imagens independentes, retirando-lhes assim a possível legitimação pelo contexto do filme a que pertencem.
As narrativas lineares a que estas imagens pertencem transformaram-se em fragmentos de gestos quotidianos, que representando acções e emoções agora recodificadas dentro de uma entidade narrativa mais abstracta.
A montagem da obra, embora em vídeo, remete para um suporte de parede, televisores de LCD, as imagens apresentadas relacionam-se entre elas por predominâncias cromáticas aproximando-as assim de um contexto mais plástico e pictórico.

O desenho pintado sobre a parede da galeria, onde estão presos os monitores LCD, reproduz um célebre trabalho gráfico criado pelos situacionistas nos finais dos anos 50 relacionado com a psicogeografia:

"La formule pour renverser le monde, nous ne l’avons pas cherchée dans le livres, mais en errant. C’était une dérive à grandes journées, où rien ne ressemblait à la veille, et qui ne s’arrêtait jamais. Surprenantes rencontres, obstacles remarquables, grandioses trahisons, enchantement périlleux, rien ne manqua dans cette poursuite d’un autre Graal néfaste, dont personne n’avait voulu."
Guy Debord, In girium imus nocte et consumimur igni (1978)

O conceito de deriva, aplica-se aqui à narrativa. A introdução da industrialização no cinema americano na década de 30 do século XX através do estúdio MGM e do seu director de produção Irving Thalberg criou um modelo normativo de narrativa linear, como substituto do romance do século dezanove, aniquilando praticamente as possibilidades mais experimentais do cinema.

Neste trabalho em vídeo as personagens perderam as suas referências e a deriva acontece nos infinitos cruzamentos aleatórios das personagens que adquiriram outra dimensão para além daquela a que pertenciam originalmente.
(P.M. 07)